Porque há o direito ao grito.
então eu grito.

domingo, 29 de agosto de 2010

A parede



         
         Olho para a luminária ao lado e reparo na mesma parede riscada, aquela igual parede de três anos atrás. Os móveis vão se transformando aos poucos e a velha parede vai ficando, continua igualmente no lugar. 
Até o sol, que bate na janela cada dia, se faz novo; e até parece pelo seu raiar que os singelos riscos na parede seriam diferentes.
 - Bom dia, obrigada sol amigo!
Mas, é novamente a mesma parede riscada, em outro lugar. 
         Passa-se a tinta, esfrega, lava, machuca a coitada da parede e o riscado continua lá, a atrapalhar. Prepara, passa a cola e coloca um papel novo e diferente do primeiro; ele se arranca e o riscado da parede volta-se, a lá estar. 
        Senhor Riscado, estas a ocupar a minha nobre parede, pode por favor se retirar? Ele não responde, apenas não aceita novamente outra mãozada de tinta, ele insiste e dispõe-se a ficar. 
        Eu já me entrego por vencida, desligo a luminária e o senhor Riscado olha para mim, transforma-se num sorriso... é só para me prejudicar. Decide falar e fala: Olha, desculpe, mas eu vou ficar.                                                                                                                                                                                                                                     - Marília Costa